19.12.1901  -  20.11.1978

De entre todos os filhos ilustres de Santa Cruz (Praia da Vitória), Vitorino Nemésio ocupa um ímpar e cimeiro lugar.
Esta terra, berço e matriz significante das suas primeiras vivências humanas, constituirá assim e depois em toda a criação nemesiana um referencial decisivo e permanente de inteligência do real, de memória comunitária e de imaginário pessoal, na medida mesma em que consagrou e projectou exemplarmente nas múltiplas variedades e variantes estilísticas e nos núcleos estruturantes de significação da sua produção literária, ensaística e académica.
A Praia da Vitória, constituindo forte presença vivida e nomeada nos escritos autobiográficos e memorialísticos de Vitorino Nemésio, aparecerá depois sempre na sua produção poética, ficcionista, contista e  sob a forma sugestiva e eficiente de um pequeno mundo real dotado de grandes virtualidades expressivas e analogantes da própria existência e condição humanas, fornecendo-lhe então tanto motivos locais de reminiscência pessoal e histórica quanto sinais e símbolos de maior alcance intelectual e especulativo, de natureza mais universal e de mais crítica e compreensiva problemática espiritual.
Era aquela Praia nemesiana a Praia da Música da Praia, do adro da Matriz, das Ermidas apedrejadas, das cerimónias religiosas e das procissões da Caída, do Santo Cristo das Misericórdias ali em frente à Casa das Tias (que lhe foi «recesso de vida», e varanda para mundos mais largos de intimidade e de experiências, «quase um palácio», de memória de facto, digo, como em S. Agostinho que ele seguiu...), da Ribeira do Mar, do Monturo, dos ilhéus vizinhos para lá da Má-Merenda, enfim, de toda a vida fantástica de O Mistério do Paço do Milhafre e que ele nos transmitiu tão genialmente    pelos seus vários  heterónios narrativos e nas suas paradigmáticas pautas de Poeta e Homem, como ali ainda junto à ermidinha da Irmandade de S. Pedro Gonçalves dos Homens do Mar  da Praia da Vitória.
Casa onde nasceu Nemésio A Obra de Vitorino Nemésio continua hoje a ser ainda (cada vez mais...) um desafio e um convite à meditação, ao amor à terra, à Cultura, à Educação e à Ciência, e bem assim afinal à dignificação dos patrimónios humanos, históricos e espirituais de Portugal, do Povo das Ilhas dos Açores em geral e da Ilha Terceira e de Santa Cruz (Praia da Vitória) em particular.

                                                                                                                                                        Casa das Tias

Dr. Eduardo Ferraz da Rosa